Divulgamos aqui a mensagem de Telmo Oliveira, que se mostrou perplexo com o abate de uma enorme tília em frente ao Palácio de Cristal, bem como as respostas da CMP e de Paulo Araújo, associado da Campo Aberto. A Campo Aberto vem desde há vários anos alertando os municípios para a necessidade de uma gestão mais criteriosa do património arbóreo das cidades. Se, por um lado, é visível alguma consciencialização através de podas mais cuidadas e menos agressivas, é também verdade que se continuam a abater muitas árvores sem se perceber bem qual o verdadeiro motivo.
Por exemplo, desde que a CMP realizou com a UTAD um estudo sobre o estado fitossanitário de todas as árvores em espaço público, os abates vêm-se realizando a um ritmo intenso. Contudo, o estudo nunca foi divulgado, nem é certo que as árvores que têm caído em temporais tenham sido devidamente assinaladas como “em risco” por esse estudo. Muito provavelmente têm sido abatidas árvores sem verdadeira necessidade disso, ou pelo menos sem que os cidadãos sejam correctamente informados (pelo menos nenhum membro da Campo Aberto, que segue de perto a imprensa, tem tido conhecimento do abate de árvores pelos serviços municipais).
O mais caricato é que às árvores ninguém perdoa nada. Ao menor sinal de fraqueza, zás! Não há aqui recuperação possível, nem tão pouco uma gestão do parque arbóreo que fomente a saúde das árvores. As caldeiras continuam pequenas, a rega em excesso, e as podas por vezes excessivas. E, depois, que dizer de certas opções? Por exemplo, dos plátanos na Av. da Boavista, em frente ao Parque da Cidade, que a prazo terão de ser abatidos por colidirem com os pinheiros-mansos?
Outras entidades têm contribuído para o que já apelidámos de “arboricídio”. A Parque Escolar continua a arrasar belíssimos maciços arbóreos. No Carolina Michaëlis, por exemplo, foi cometido algo que se assemelha a um atentado ambiental urbano, com abate de dezenas de árvores de grande e médio porte. Simultaneamente, foram plantados novos espécimes em locais onde não poderão crescer devido à exiguidade de espaço ou por entrarem em conflito com outras árvores já adultas. Outros casos semelhantes foram já criticados pela Campo Aberto: Filipa de Vilhena e Aurélia de Sousa.
De facto têm sido tomadas muitas opções dificilmente compreensíveis. Ainda que nalguns casos os abates sejam certamente justificados – não pomos isso em causa – não temos qualquer dúvida que a gestão do património arbóreo da cidade do Porto está muito longe de se poder considerar aceitável, e que é preciso olhar para a árvore como ser vivo que é.
Mensagem de Telmo Oliveira
Bom dia. Chamo-me Telmo José Oliveira e moro na Rua de Vilar, bem perto do Palácio de Cristal.
Na segunda-feira dia 22 quando me dirigia para casa vi que estavam pessoas com coletes reflectores (supus que seriam da CMP) à volta de uma das árvores (uma tília, penso eu) que ladeiam o Palácio de Cristal na Rua D. Manuel II mesmo em frente à livraria Index.
Na manhã seguinte fui ao local ver o que se tinha passado e verifiquei para meu espanto que uma dessas frondosas árvores tinha sido cortada! Incluo as imagens onde se pode ver que, aparentemente, a árvore estava saudável (confesso que não sou especialista).
Têm conhecimento desta intervenção? Sabem se se enquadra na “requalificação” do Palácio de Cristal?
Gostaria de saber quais os planos para o espaço dado que ficou nitidamente afectado com o abate desta arbórea.
Fico a aguardar resposta.
Cumprimentos,
Telmo Oliveira
Resposta da Câmara do Porto
Sobre o assunto em epígrafe e em resposta às questões colocadas por V. Ex.ª somos a esclarecer que o abate da árvore em referência decorreu do normal processo de monitorização do estado fitossanitário do arvoredo municipal, em nada se relacionando com qualquer projecto de requalificação do Palácio de Cristal.
A decisão de abate de qualquer árvore municipal resulta sempre desse processo de monitorização técnica, que vai sendo garantido pela C. M. Porto através destes serviços, com vista quer à melhor qualidade deste património como, por último e com maior importância, a necessária segurança por ele oferecida, relativamente a pessoas e bens.
Tal como acontece em todas as situações de âmbito semelhante à exposta, o exemplar em análise (inventariado na Rua D. Manuel II com o número 39) tem vindo a ser alvo de vigilância apertada, principalmente no que se refere aos sinais de debilidade fitossanitária que tem vindo a apresentar ao longo dos últimos anos. Do mais recente diagnóstico resultou a consciência do grande e preocupante agravamento da sua condição sanitária e, consequentemente do incomportável grau de risco representado para a segurança de pessoas e bens envolventes.
A par da consciência municipal sobre a importância e valor do arvoredo urbano será certamente efectuada a replantação do exemplar agora abatido, sendo que essa acontecerá com uma jovem árvore da mesma espécie, após a retirada do raizeiro ainda presente, tratamento das terras (actualmente infectadas com fungos radiculares) e em época mais adequada.
Disponíveis para quaisquer outros esclarecimentos que entenda como necessários.
Comentário de Paulo Araújo, autor do livro “À sombra de árvores com história”
O teor do esclarecimento sobre o abate da árvore não é surpresa nenhuma. De qualquer modo, gostei da disponibilidade dos serviços da Câmara em fornecer estas explicações. Talvez fosse de avisar os munícipes antes de os abates acontecerem, explicando as razões que os determinaram (através, por exemplo, de cartazes colados nas árvores a abater) – mas, não sendo isso feito, já é muito bom que haja abertura e transparência depois de consumado o acto.
Julgo que não há maneira de impugnar explicações como estas. Penso, de uma forma geral, que a Câmara sobrevaloriza os riscos colocados por uma árvore doente e não valoriza suficientemente a árvore em si. A sua importância ambiental, social e patrimonial deveriam, em muitos casos, justificar esforços para manter a árvore viva, se necessário escorando-a. O resultado é que as “árvores com história” vão, uma a uma, desaparecendo da cidade. E não é garantido que as árvores deixem de cair.
Paulo Araújo
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O teor do esclarecimento sobre o abate da árvore não é surpresa
nenhuma. De qualquer modo, gostei da disponibilidade dos serviços da
Câmara em fornecer estas explicações. Talvez fosse de avisar os
munícipes antes de os abates acontecerem, explicando as razões que os
determinaram (através, por exemplo, de cartazes colados nas árvores a
abater) – mas, não sendo isso feito, já é muito bom que haja abertura
e transparência depois de consumado o acto.
Julgo que não há maneira de impugnar explicações como estas. Penso, de
uma forma geral, que a Câmara sobrevaloriza os riscos colocados por
uma árvore doente e não valoriza suficientemente a árvore em si. A sua
importância ambiental, social e patrimonial deveriam, em muitos casos,
justificar esforços para manter a árvore viva, se necessário
escorando-a. O resultado é que as “árvores com história” vão, uma a
uma, desaparecendo da cidade. E não é garantido que as árvores deixem
de cair.
Paulo
Em primeiro lugar parabéns à campo aberto pelo seu trabalho.
Segundo aspecto: De facto e como o Telmo Oliveira afirma foram cortadas diversas Tílias na referida rua onde até à bem pouco tempo era a sede da minha empresa(Ligada ao ramo da jardinagem). O que me choca mais é que após o abate foram lá colocar, como aliás a carta da CMP refere e passo a citar “uma jovem árvore da mesma espécie”,mas porquê????????????
Se a tilia foi retirada, pelas causas já referidas e outras mais, PARA QUÊ COLOCAR OUTRA DA MESMA ESPÉCIE!!!!!!!!!!! SERÁ QUE ESTA ÁRVORE ENTRETANTO EVOLUIU, QUE JÁ POSSA CRESCER SAUDÁVEL SEM QUE DAQUI A UNS ANOS NÃO SEJA NECESSÁRIO VOLTAR A ABATER-LA. Porque não seleccionar outra espécie de menor crescimento, que melhor se adapte às péssimas condições do local em causa.
Abraço