Ler a transcrição da audição na Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura aos representantes do IPPAR
Comentário de
Paulo Ventura Araújo:
«Fica a ideia, no meio de muita barafunda, de que os representantes do IPPAR querem convencer os membros da Comissão de, apesar de imaginarmos que o projecto de arranjo dos Aliados só existe e foi divulgado desde o início de 2005, ele já estar em “burilação” desde 2000, embora entretanto tenham mudado alguns pormenores de somenos, como sejam:
– o autor do projecto (antes era Siza Vieira, agora passou a ser Souto Moura ajudado pelo mesmo Siza Vieira);
– a área por ele abrangida (era só a Praça da Liberdade, mas depois foi andando pela avenida acima);
– a entidade que o vai implementar (começou com a Porto 2001, continuou com a Câmara, que o engavetou, e é finalmente herdado pela Metro).
E em todas estas migrações e metamorfoses o IPPAR esteve em cima do acontecimento, acompanhando a “burilação” passo a passo (até centímetro a centímetro, a acreditar em Lino Tavares).
Neste cenário, o parecer que finalmente emitiu, depois de iniciadas as obras, foi pura formalidade, escusada não fosse haver quem se agarre a estas picuinhices.
Fica ainda a impressão de que neste processo intervieram, sucessivamente ou em paralelo, vários IPPARs com preocupações distintas e até contraditórias:
(1) um que, fiel à vocação do organismo, zela pela conservação do património e se propõe (desde 1993) classificar o conjunto Praça da Liberdade / Avenida dos Aliados / Praça do General Humberto Delgado;
(2) outro, antagónico do primeiro, que desde 2000 conspira com os arquitectos pela descaracterização desse mesmo património;
(3) um que emite um parecer favorável à intervenção, mas tem reservas quanto a algumas das suas opções fundamentais (por exemplo, quando escreve: «se a opção do projecto passa par uma solução de alameda e afirmação de avenida através do reforço de um eixo, opção essa aceitável, então alguns aspectos poderiam ser ponderados no sentido de conferir maior coerência a essa opção uma vez que se afigura que a individualização des espaços se mantém»);
(4) outro, presente nesta audição com a Comissão Parlamentar, que não poupa elogios ao projecto e não lhe aponta qualquer objecção.»
(Sobre este assunto:
13.10.05- Dos Jornais -“Arranjos nos Aliados não respeitam impacte ambiental” ;
12.10.05- Comentário ; Dos Jornais – “Intervenção da Metro nos Aliados ‘boa para a cidade'” ;
8.10.05-Resultado do envio das assinaturas para a Assembleia da República- relatório ;
14.9.05 – Nos jornais- “Parlamento vai debater obras nos Aliados” ;
14.7.05 – Av. dos Aliados – queixas ao Governo português e a Bruxelas )
Fica a ideia, no meio de muita barafunda, de que os representantes do IPPAR querem convencer os membros da Comissão de, apesar de imaginarmos que o projecto de arranjo dos Aliados só existe e foi divulgado desde o início de 2005, ele já estar em “burilação” desde 2000 – embora entretanto tenham mudado alguns pormenores de somenos, como sejam:
– o autor do projecto (antes era Siza Vieira, agora passou a ser Souto Moura ajudado pelo mesmo Siza Vieira);
– a área por ele abrangida (era só a Praça da Liberdade, mas depois foi andando pela avenida acima);
– a entidade que o vai implementar (começou com a Porto 2001, continuou com a Câmara, que o engavetou, e é finalmente herdado pela Metro).
E em todas estas migrações e metamorfoses o IPPAR esteve em cima do acontecimento, acompanhando a “burilação” passo a passo (até centímetro a centímetro, a acreditar em Lino Tavares). Neste cenário, o parecer que finalmente emitiu, depois de iniciadas as obras, foi pura formalidade, escusada não fosse haver quem se agarre a estas picuinhices.
Fica ainda a impressão de que neste processo intervieram, sucessivamente ou em paralelo, vários IPPARs com preocupações distintas e até contraditórias:
(1) um que, fiel à vocação do organismo, zela pela conservação do património e se propõe (desde 1993) classificar o conjunto Praça da Liberdade / Avenida dos Aliados / Praça do General Humberto Delgado;
(2) outro, antagónico do primeiro, que desde 2000 conspira com os arquitectos pela descaracterização desse mesmo património;
(3) um que emite um parecer favorável à intervenção, mas tem reservas quanto a algumas das suas opções fundamentais (por exemplo, quando escreve: «se a opção do projecto passa par uma solução de alameda e afirmação de avenida através do reforço de um eixo, opção essa aceitável, então alguns aspectos poderiam ser ponderados no sentido de conferir maior coerência a essa opção uma vez que se afigura que a individualização des espaços se mantém»);
(4) outro, presente nesta audição com a Comissão Parlamentar, que não poupa elogios ao projecto e não lhe aponta qualquer objecção.
Queria agradecer por se terem dado ao trabalho de fazer esta transcrição.
O João Rodeia diz (pag. 2) que o projecto (do Siza Vieira e Souto Moura) vai ao encontro do espírito de intervenção de 1915 do Barry Parker (não conheço). Será que este projecto original previa a sua demolição completa e substituição por uma coisa completamente diferente? O mesmo João Rodeia mais a frente (pag. 5) mostra que é coerente nesta forma de pensar, ao dizer que a decisão sobre a calçada é secundária, porque é reversível. Ou seja, no futuro pode-se outra vez levantar o pavimento todo e substituir por outro material.
Eles também procuram por todos os meios desvalorizar a avenida actual. A verdadeira “calçada portuguesa” é o granito (João Rodeia, pag. 5); o coberto vegetal que lá existia é pouco uniforme porque foi sedo plantado ao longo do tempo (Miguel Rodrigues, pag. 6); não tem um traçado único (Lino Dias, pag 10); não foi feita de acordo com o desenho inicial e tinha poucas árvores (João Rodeia, pag. 5); estacionamento um pouco desregado (Miguel Rodrigues, pag. 6); etc. Até falam qualquer coisa sobre a rampa da Câmara, “que é uma adição muito recente”.
Miguel Rodrigues diz que (pag. 6) “…nestas situações deverá ser privilegiada uma intervenção contemporânea e se deve evitar estar a mimetizar – digamos assim de situações existentes”. Falando assim, ele parece ser contra toda a preservação do patrimonio.
O João Rodeia (IPPAR) diz (pag. 2) que “do ponto de vista formal o processo decorreu tanto quanto julgo saber de forma exemplar” (entre o IPPAR e os dois arquitectos). MAS apesar disso, o parecer formal só foi emitido em junho… Será que neste ponto temos que confiar na palavra do presidente do IPPAR quando diz que eles estavam a acompanhar o projecto?
Mas acho que o mais grave foi isto ter sido feito de forma escondida dos cidadãos.: João Rodeia diz que (pag. 10) “TALVEZ, EVENTUALMENTE não tenha havido a discussão pública tão alargada quanto possível em relação a este projecto”.E, mais a frente: “é impossível haver unanimidade de todos os cidadãos do Porto em relação a mudanças operadas na cidade.” Ele assume que a grande maioria indiferente, seja favorável ao projecto.
A pergunta da Manuela Melo (pag. 10) ficou sem resposta. O projecto que o IPPAR acompanhou foi o da Porto 2001 ou o do Metro?
Agostinho Branquinho diz (pag. 9): “Como sabe, temos divergências noutras áreas de intervenção no Porto, mas a vida…”. Por estas palavras percebe-se que não adianta estarmos a analisar logicamente o problema, porque a explicação para tudo é política e não está nos Aliados mas umas centenas de metros distante, no TÚNEL DE CEUTA.