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SIZA EM MADRID por Miguel Sousa Tavares (no Expresso de 13 de Maio de 2006)
«Sábado passado, Madrid estava em pé de guerra contra o arquitecto português Álvaro Siza Vieira. Mobilizada por Carmen Cervera, a viúva baronesa Von Thyssen, uma pequena multidão manifestava-se junto ao Passeio do Prado contra o projecto, da autoria de Siza, para a reconversão da zona chamada “triângulo da arte”, compreendendo os museus do Prado, Rainha Sofia e Thyssen-Bornemiza. As duas razões invocadas para a revolta pareceram-me, a mim e ao editorialista do ‘El País’, inteiramente justificadas. A primeira era a própria linguagem descritiva do projecto, escrita naquele típico ‘arquitectês’ cujo primeiro objectivo é fazer passar por incultos os que não quiserem deixar tomar-se por parvos e acharem que o rei vai nu.
Com toda a razão, os cidadãos de Madrid querem saber ao certo o que lhes preparam e não se contentam com descrições codificadas, ambíguas e ridiculamente elaboradas. A segunda razão é ainda mais palpável: os contestatários do projecto desconfiam, e julga-se que com fundamento, que o dito projecto contempla o derrube de cerca de 700 árvores, algumas seculares, “em benefício dos peões”. E parece que não ocorreu ao autor que os peões, justamente, gostassem das árvores ali e não as quisessem ver pelas costas, em benefício do “objecto”.
Chamado a explicar-se, Siza Vieira usou um argumento de autoridade: “Houve um júri, que aprovou um conceito”.
Recordei-me do que aconteceu no promontório de Sagres, para sempre destruído por uma intervenção arquitectónica, contestada por todos os habitantes locais e pessoas de bom senso, mas que também foi avante com o argumento de que tinha havido um concurso e um vencedor e era preciso respeitá-los. Reduza-se então o assunto a uma questão de direitos: as pessoas não têm o direito de gostar de árvores e de rochas, ou é mais importante o direito dos arquitectos a não gostarem? O que serve, afinal, a arquitectura – não serão as pessoas?»