«Fez-se luz nos Aliados -N’O Primeiro de Janeiro por Ana Magalhães
Rui Rio devolveu simbolicamente a “sala de visitas” da cidade aos portuenses com o arranque da nova iluminação pública. Obra projectada por Siza Vieira e Souto Moura reuniu contestações de muitos ambientalistas mas não foram o suficiente para travar a empreitada.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, ligou ontem, pelas 21h40, as luzes que iluminam a nova Avenida dos Aliados, “a principal sala de visitas da cidade”, conforme referiu o autarca. “Está com a qualidade que o tempo dirá”, respondeu aos críticos da solução encontrada por Siza Vieira para o espaço, afirmando que compreendia a contestação mas que, agora, “entende-se que ficou melhor” e acredita que “há muitas pessoas que estavam contra e que vão, decerto, mudar de opinião”.
Por seu turno, Álvaro Siza Vieira, também presente na tardia cerimónia, reconheceu que as contestações populares como a que sucedeu no Porto e, há umas semanas, em Madrid, têm peso “naturalmente”, nomeadamente a contestação jurídica. Contudo, o arquitecto não comentou a crítica de haver “cinzentismo” no projecto, talvez porque quando falava, alguns populares, próximos das câmaras de televisão, queixavam-se: “Só prédios, só prédios. Estragaram aquilo que estava bonito”.
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No Público «Nova Avenida dos Aliados iluminou-se pela primeira vez mas não ofuscou a polémica
Nuno Amaral e Abel Coentrão
Primeiras impressões apontam a falta de espaços verdes como a principal falha. Rui Rio acredita que bastará o tempo para convencer a população
De repente, o cinzento que agora cobre toda a Avenida dos Aliados espelhou a luz emanada pelas dezenas de candeeiros colocados na “sala de visitas” do Porto. Apesar de passar já das 21h30, passou-se da noite para o dia e tornou-se nítido o resultado de uma das obras mais aguardadas e criticadas da cidade. “Era preciso tomar uma decisão e neste momento histórico coube-me a mim decidir”, enfatizou Rui Rio, presidente da Câmara do Porto.
Sentado num dos pilares que sustentam as protecções do lago colocado ao cimo da avenida, um homem lançava um olhar melancólico sobre a praça. Dizia ser arquitecto e não querer “embaraçar um colega”. “Este lago não tem protecção nenhuma. Amanhã já está cheio de miúdos e de maços de tabaco vazios”, adivinhava.
À medida que iam pisando a nova calçada, toda de granito cinzento, alguns curiosos expunham em tom de voz elevado o sentimento que os percorria. “Deram cabo da Baixa. Onde é que estão os jardins?”, perguntava uma das cerca de cinco dezenas de pessoas que ontem contactavam pela primeira vez com o lago deixado ontem a descoberto.
Os comentários sucediam-se. Em redor do espelho de água colocado em frente à estátua de Almeida Garrett, dezenas de habitantes avaliavam a emblemática obra dos arquitectos Souto Moura e Siza Vieira. “Isto é um teste, é uma experiência parcial, ainda falta mexer na iluminação do edifício da câmara e deixar crescer as árvores”, avisava Siza Vieira.
Rui Rio salvaguardou também que o projecto obedecia na íntegra ao esquisso apresentado inicialmente por Siza Vieira, e admitiu serem “naturais” as críticas que ontem, e desde há muito, têm ecoado pela cidade. “É normal que isto mexa com as emoções das pessoas. Isto é a “sala de estar” do Porto. Eu pessoalmente gosto e acredito que a população da cidade, com o tempo, virá também a fazê-lo”, enfatizava o autarca.
Contariando a tendência das opiniões que percorriam a praça, Palmira Ferreira afirmava gostar do espelho de água. E da calçada de granito. “Está muito bonito. Até que enfim que dão nova vida a isto”, expunha esta funcionária pública que há 53 anos vive nas traseiras dos Aliados. Ainda assim, assevera, sente falta dos jardins e dos bancos de madeira.
Um argumento que Rio tenta rebater ao sublinhar que os Aliados têm agora mais árvores do que aquelas de que dispunham. “Vão demorar um ano a crescer e aí ver-se-á esta praça com todo o esplendor. Por muita influência que tenha, ainda não consigo meter cunhas às forças da natureza”, ironizou.
O presidente da Câmara do Porto adiantou ainda que dentro de pouco tempo a Avenida dos Aliados contará “com bastantes esplanadas”. Como estímulo, a autarquia garantiu isentar de taxas todos os comerciantes que pretenderem colocar mesas e cadeiras nos passeios laterais à avenida. “Agora só não pode é haver muitas cores. Tem de haver um critério”, expôs Rio.
De “sala de estar”, os Aliados passaram a ser “salão”, de acordo com a leitura feita tanto pelo autarca como pelo arquitetco. “No próximo sábado, dia 10 de Junho, nas comemorações do Dia de Portugal, os portuenses vão ver como esta praça vai estar mais ampla quando assistirem ao concerto de Rui Veloso”, projectou.
Polémica, manifestações e providências cautelares
A inauguração desta noite assinala o fim de um processo conturbado de intervenção na via pública da zona mais emblemática do Porto. O fim, ou quase: é que ainda não se sabe como reagirão os portuenses à nova praça, sendo certo que, se o espaço não recuperar alguma vida, cedo as críticas regressarão. E desconhece-se ainda o resultado da acção administrativa especial contra o Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, a Câmara do Porto e a sociedade Metro do Porto promovida pela Campo Aberto – Associação de Defesa do Ambiente, o GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental e a APRIL, Associação Política Regional e de Intervenção Local.
Indeferidas as providências cautelares que haviam interposto para tentar travar as obras, as associações sabem que já não conseguirão repor o antigo perfil da praça, mas pretendem que o tribunal avalie “as questões de fundo em causa: a violação das medidas de minimização resultantes da Avaliação de Impacte Ambiental, a ilegalidade do parecer favorável do Ippar, a realização de obras pela Metro do Porto fora do âmbito do seu objecto de concessão e a ausência de audiência pública previamente às obras”, lê-se numa nota à imprensa publicada no blogue que, há mais de um ano, dedicam a este tema.
Independentemente do que o tribunal venha a decidir sobre as “questões de fundo”, a verdade é que, do ponto de vista político, estas alimentaram a polémica que sempre acompanhou a obra. Os críticos lembraram sempre que a Avaliação de Impacte Ambiental obrigava a Metro a repor “sempre que possível” as características dos espaços afectados pelas obras, e nunca se convenceram de que a simples existência de bocas de acesso à estação dos Aliados da Linha Amarela justificava a alteração radical do perfil e do piso das Praças do General Humberto Delgado e da Liberdade e da Avenida dos Aliados. E criticaram também o facto de o Ippar ter dado pareceres sobre as duas fases em que as obras decorreram sempre depois de elas se terem iniciado.
A Metro do Porto tentou passar para a câmara o ónus da escolha do projecto, e Rui Rio não recusou este papel, tendo sido um dos alvos principais dos ataques ao projecto de Souto Moura e Siza Vieira. O autarca antecipou, aquando da apresentação do novo desenho para a praça, que nem a escolha do dream team da arquitectura o iria salvar da ira dos que viam nos canteiros, nas árvores e na calçada portuguesa um património inviolável. E tinha razão.
Ainda tentou esboçar um debate, fazendo uma apresentação pública na câmara e aceitando uma pretensão do PS para uma assembleia extraordinária com a presença dos projectistas, mas recusou sempre, por entender que a isso não estava obrigado, a abertura de um período de discussão pública.
Rio nunca esteve, porém, isolado, na sua posição de defesa do projecto. Se se conhecem milhares de assinaturas contra a intervenção, também se conhecem as declarações públicas, a favor, de notáveis que nunca sentiram a necessidade de se organizar porque, obviamente, concordavam com o desenho. A melhor sondagem chegará por isso ao longo dos próximos tempos, dependendo o seu resultado do uso que os portuenses derem ao novo espaço. Esperemos então.»
tenho pena de ver que a maioria dos cidadãos do porto se pronunciam contra a nova Av. dos aliados. eu considero que a remodelação foi muito feliz: está mais cosmopolita. Além disso favorece as fachadas dos edificios envolventes que antes não tinham qualquer leitura. quanto à calçada portuguesa, não faltam exemplos na cidade (até em Sampaio Bruno que é ali ao lado!). E os jardins? O parque da cidade é muito grande e não vejo vantagem nenhuma em estar sentado num pseudo jardim rococo a inalar fumos dos canos de escape das viaturas que passam!
Caro anónimo
agora pode Não se sentar no “pseudo jardim rococo”, tera que escolher a bordadura de um tanque mas continuará a inalar fumos das viaturas…
anónimo (com anónimo se paga…;-(