«Portuenses distantes das cerimónias do Dia de Portugal
Os cartazes há muito anunciavam as comemorações: “10 de Junho – o Porto acolhe a Nação”. Mas o povo esteve ontem distante da visita presidencial.
Na rua, o primeiro sinal desse alheamento aconteceu em pleno centro histórico do Porto, junto à estátua do Infante D. Henrique onde, a meio da tarde, o Presidente da República colocou uma coroa de flores. E nem o aparato militar da guarda de honra espevitou a cidade. Mas há sempre excepção à regra. “Eu não sei onde fica Serralves, mas ouvi na rádio dizer que o Presidente vinha aqui e fiquei para o ver. Ele é bonito, é magrinho, não me esqueço dele porque, quando foi primeiro-ministro, deu muita coisa à gente, deu-nos o 14.º mês”, afiançava Alice Machado, observando da esplanada de um café a cerimónia-relâmpago de homenagem.
Duas amigas já esperavam há mais tempo. Manifestam-se fãs de Cavaco. “Nunca viemos aos outros, nunca nos interessou”, garantiram, acompanhando à distância todas as movimentações. “Não acompanho muito a política, mas sei que ele já vetou a quota [numa alusão ao veto da Lei da Paridade], ele está atento”, regozijava-se Alice Machado com “”a fé” de que “o Cavaco fará todo o possível para fazer de Portugal um país melhor”.
Já em frente aos Paços do Concelho, o outro local do programa que possibilitava um contacto directo com a população, era a requalificação da Avenida dos Aliados, esta semana inaugurada, que despertava os comentários mais desencontrados. Discussões acesas que passaram ao lado da cerimónia do içar da bandeira, com honras militares, em frente ao edifício da câmara municipal. “Tanta polícia para guardar as costas a quem?”, vituperava uma mulher, indignada com as alterações na Avenida dos Aliados, com assinatura dos arquitectos Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura. “Isto é bom é para fazer skate”, disparava ainda, completamente indiferente às cerimónias.
“Perdeu-se a nossa história: a Praça de Espanha, em Madrid, nunca mudou; a Grand Place, em Bruxelas, é assim há quatrocentos anos, não mudou; Trafalgar Square, em Londres, não mudou. Por que é que fomos copiar os italianos?”, indignava-se uma outra transeunte. Nessa altura, já Cavaco Silva discursava nos Paços do Concelho. E a discussão por causa da Avenida dos Aliados estava para durar. »
No Público por Margarida Gomes
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