Rui Vaz Osório (in Público -Local 02.07.06)
«Quando se iniciaram as obras para a construção da estação do metro na Avenida dos Aliados, afirmou-se publicamente que tudo aquilo que estava a ser destruído iria ser totalmente reposto, com excepção de um ou outro “respiro” da estação, que poderia provocar alterações pontuais nos jardins. Os portuenses descansaram e eu, embora não percebesse lá muito bem o interesse de uma estação do metro naquele sítio, com a da Trindade logo acima e a de S. Bento logo abaixo, descansei também. (…)
O tempo foi passando e, a dada altura, começou a falar-se na “requalificação” da Avenida dos Aliados. Então, lembrando-me do que tinha acontecido com o jardim da Cordoaria, comecei mesmo a preocupar-me, para entrar em pânico quando vi o projecto publicado.
Seria verdade que aquilo era mesmo para fazer? Seria possível que a câmara aprovasse e impusesse aquele cinzentismo à cidade sem a esclarecer e consultar? A população seria tão abúlica que não esboçasse qualquer forma de protesto? E o Ippar, que tanto barulho tinha feito por meia dúzia de metros da boca de um túnel, iria ficar calado perante tal destruição no coração da cidade?
Entretanto as obras continuavam, os protestos que surgiram foram totalmente ignorados, e eu ia procurando consolar-me repetindo para mim mesmo:- Se calhar, sou eu que estou a ver mal o problema. É capaz de não ficar tão mal como parece! Só que, quando vi a obra completa, constatei que ainda tinha ficado pior do que eu imaginava.
Quando era jovem, assisti à destruição do Palácio de Cristal para se construir o Pavilhão dos Desportos (…). Ficou para a história, como autor desse crime, o então presidente da câmara coronel Licínio Presa. Julguei que, durante a minha vida, jamais iria presenciar outro atentado semelhante contra o património cultural e artístico da cidade. Enganei-me. Novo crime foi cometido, e a história julgará a câmara e o presidente que o consentiram.
Tantas vezes mostrei aquela bela avenida aos cientistas e amigos de vários países meus convidados para congressos, reuniões de trabalho e outros eventos realizados na minha cidade… E sempre eles saíram do Porto encantados com o que tinham visto! E, agora, o que é que eu faço? Vou mostrar aquilo? Palavra que me sinto tentado a levá-los até ao Cais de Gaia… »
Outras opiniões
Creio que já se comentou tudo sobre a obra da Avenida. Será que vai adiantar alguma coisa ? Mas uma verdade é certa. Temos vergonha de mostrar a nossa Sala, como bem disse. Eu fico-me pelas Cardosas, deixo o D.Pedro tapar a vista geral, e espero que os amigos não queiram subir até ao tanque.