Ao longo da sua existência, o Movimento em Defesa do Rio Tinto tem, incansavelmente, denunciado uma série de atentados à integridade deste precioso bem natural que é o rio que dá nome à cidade, alertando, ao mesmo tempo, para as consequências negativas que essas actuações poderiam ter, a curto ou médio prazo.
Com efeito, há toda uma série de más decisões que se têm acumulado, entre as quais destacamos o entubamento do troço mais emblemático, a desnaturalização do leito e margens, revestindo-as de betão ou impermeabilizando-as, a ocupação inconsciente de leitos de cheia.
Mais recentemente, as obras de ampliação da rede do Metro, com um traçado em certos pontos pouco compreensível e com soluções técnicas intrigantes, tais como um novo entubamento parcial e total manutenção do anterior, vieram acrescentar preocupações.
A intempérie que atingiu Rio Tinto no passado dia 21 veio evidenciar que não é impunemente que, de modo leviano e impensado, se atenta contra a natureza. Cansado de tantos atropelos, o rio zangou-se e falou bem alto. Mostrou que aprovações de projectos, licenciamento de obras sem critérios de respeito pelo património natural acabam por conduzir a danos que seriam evitáveis.
O rio transbordou, inundou casas, destruiu muros, pontões, pavimentos. Explicar estes acontecimentos como aleatória “catástrofe natural” é, realmente, fugir às responsabilidades e camuflar a raiz dos problemas. Muitas vezes o Movimento em Defesa do Rio Tinto, alertou para a periculosidade de se ofender a naturalidade deste curso de água.
No caso das obras do Metro, os factos (águas a galgarem o betão, a arrastarem tubos a quilómetros de distância, a destruírem protecções) comprovam que o traçado, o projecto, o licenciamento e a fiscalização da obra não foram adequados à realidade dos locais onde ela se implanta.
O rio falou. De modo rude, como normalmente a Natureza agredida costuma reagir.
Esperamos, vivamente, que os responsáveis, com particular realce para a Câmara Municipal de Gondomar e empresa Metro do Porto, saibam escutar a mensagem que o rio deixou. Porque, mais do que minimizar os efeitos dos danos agora verificados, importa tomar medidas de fundo que previnam a sua repetição.
Não obriguem o rio a ter novamente de falar alto!
23 de Dezembro de 2009
O Movimento em Defesa de Rio Tinto
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