Nas próximas noites de 3 a 16 de Março decorre mais uma campanha internacional Globe at Night. Nesta iniciativa de Ciência e Cidadania todos terão oportunidade de participar, de forma muito simples, dando o seu contributo para um melhor conhecimento dos efeitos da degradação da qualidade do céu nocturno nos locais onde vivem, consequência da poluição luminosa. Resultado de uma iluminação de exterior mal planeada e ineficiente, a poluição luminosa tem consequências negativas na saúde humana, na biodiversidade, no consumo de energia, na astronomia, e mesmo na segurança rodoviária. O seu controlo e redução são, por isso, um imperativo. Muitos dos habitantes dos centros urbanos ou deles próximos nunca viram um céu estrelado, em particular a população mais jovem. Abaixo poderá encontrar mais informações sobre a poluição luminosa. Tudo o que necessita para contribuir para esta campanha mundial é de, numa (ou mais) dessas noites, entre as 20h e as 22h (hora local), encontrar a constelação de Orion e contar o número de estrelas que vê na constelação. Não precisará de mais do que 15-20 minutos para participar.
Se possível, escolha um local sem candeeiros ou, pelo menos, procure evitar a incidência da luz de candeeiros próximos nos seus olhos, recorrendo, se necessário, a um resguardo ou utilizando as mãos para proteger os olhos dessa luz. Se puder, espere uns 10-20 minutos antes de começar a contagem, por forma a dar tempo aos olhos de se adaptarem ao escuro. A constelação de Orion é uma das mais conhecidas e é fácil encontrá-la e identificar as suas estrelas. Conte as estrelas que vê na constelação e compare com os mapas da constelação que pode encontrar online.
Esta actividade pode, claro, ser feita em grupo – é uma boa maneira, aliás, de fornecer aos mais novos uma experiência diferente e de os entusiasmar e pôr em contacto, através da família ou amigos, com o mundo da ciência e com o Universo. Boas observações! E por favor divulgue pelos seus contactos. Obrigado.
Raul Cerveira Lima raulclima@eu.ipp.pt
Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto/Instituto Politécnico do PortoFaculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (Doutorando)
A poluição luminosa
A poluição luminosa pode ser definida, de forma sucinta, como a contaminação do céu nocturno pela luz artificial. O advento e propagação da iluminação pública eléctrica, o crescimento demográfico, a utilização de candeeiros com resguardos que não impedem a luz de se propagar para cima ou para os lados, e o desenvolvimento de lâmpadas mais eficientes acarretaram um aumento rápido da poluição luminosa. O fim dos ciclos dia-noite, em particular nos meios urbanos, onde a noite é permanentemente iluminada e o céu deixou de ser negro e estrelado, provoca alterações no sono e no ritmo circadiano, com consequências, por exemplo, na produção de melatonina que, como têm demonstrado vários estudos, sofre uma quebra importante. Recentemente (2009), a Associação de Médicos Norte-Americana publicou uma resolução alertando para os efeitos da poluição luminosa, no que concerne ao sono e descanso, ao aumento da produção de CO2, com consequências para a saúde e clima, e na condução de veículos, em particular nas pessoas de mais idade. A biodiversidade é também afectada de várias formas, desde as aves migradoras às tartarugas marinhas, passando pelos insectos, mamíferos e aves nocturnas, bem como pelas plantas… A astronomia é particularmente afectada – os efeitos da poluição luminosa fazem-se sentir a grande distância dos centros produtores (uma grande cidade pode prejudicar o céu nocturno a largas dezenas de quilómetros de distância). O controlo e redução da poluição luminosa requerem apenas medidas simples, trazendo simultaneamente vantagens para todos: ao controlar a poluição luminosa, para além de beneficiar os que são por ela afectados, acima referidos, poupa-se energia eléctrica, o que se traduz numa redução de consumo de recursos naturais e numa redução de CO2 atmosférico. A substituição dos resguardos dos candeeiros que deixam a luz propagar-se para cima ou para os lados (onde não é necessária) ou a instalação de raiz, nas novas edificações ou arruamentos, de luminárias “amigas” do céu nocturno, são as principais medidas que podem ser tomadas, com efeitos imediatos na poupança energética e na melhoria da qualidade do céu nocturno e proporcionando um contacto com essa dimensão da Natureza que cada vez é mais difícil de observar: uma noite estrelada, desde sempre fonte de inspiração, curiosidade e conhecimento científico.
Como encontrar a constelação de Orion
Se olhar para sul/sudoeste, verá uma estrela brilhante bem acima do horizonte (cerca de um palmo e meio acima, com o braço esticado). Essa estrela, Sirius, é o astro mais brilhante a essa hora e servirá de referência para encontrar Orion, que se situa a cerca de um palmo acima e à direita de Sirius. Orion é grande e, as suas estrelas principais, brilhantes; desde a primeira vez que se identifica esta constelação, não mais se esquece a sua forma principal: quatro estrelas formando um rectângulo, com três estrelas de grandeza praticamente igual em linha recta, inclinada em relação aos lados do rectângulo (algo como a letra H, em que a linha que une as verticais é oblíqua).
Como proceder
Registe o número de estrelas que consegue identificar em Orion, o local e a data e hora da observação e, se possível, os comentários que achar relevantes para melhor caracterizar as condições da observação (por exemplo: “Céu limpo; candeeiro a 30 m, por baixo de Sirius; 10 minutos de adaptação ao escuro”). Para que possa utilizar o mapa à noite e registar os dados sem afectar a adaptação dos olhos ao escuro, recomenda-se a utilização de uma simples lanterna com a óptica coberta com celofane vermelho (ou uma lanterna com led vermelho). Os resultados devem ser comunicados de forma independente – cada observador envia os seus resultados, com a localização do sítio em que fez a observação. As coordenadas do local da observação, se não forem conhecidas, podem ser obtidas de forma simples com um GPS.
Publicação dos resultados
Os resultados da campanha são posteriormente processados e apresentados com os locais onde foram efectuadas as observações.
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