Uma das última mensagens da lista de distribuição rur-urb que temos dinamizado como forma de partilha e descoberta de ideias relacionadas com a relação rural-urbano foi uma mensagem de José Carlos Marques a propósito dos Mercados Municipais e que reproduzimos em baixo.
Num artigo intitulado “Comércio de rua; como é que se vai devolver gente às lojas da Baixa de uma cidade?”, (jornal Público de 5 de dezembro último, suplemento “Cidades”), com coisas interessantes e outras menos, destaco este fragmento:
“Mercados também ajudam
Bons mercados municipais podem ser uma estratégia para dar coesão e revitalizar os bairros e as cidades. Quem o diz é o consultor para a área dos mercados municipais Jordi Tolrà, responsável pela comunicação dos Mercats de Barcelona até ao ano passado. «Está comprovado que a remodelação de um mercado de alimentação melhoira o ambiente urbano em que se encontra, atrai novos tipos de comércio e novos moradores.»
A seguir cita-se João Rosado, presidente da Acral (Associação de Comércio e Serviços da Região do Algarve), que invoca os bons resultados da reabilitação dos mercados municipais de Loulé, de Faro e de Portimão nos últimos três anos. No de Faro instalou-se até um supermercado e uma loja do cidadão… Não fala do de Olhão, talvez arquitectonicamente o mais bonito dos quatro (era, pelo menos).
Conheci estes mercados algarvios na década 1980-90 quando eram vivíssimos, belos e animados. Receio, mas é talvez receio injustificado, que a “reabilitação” não tenha respeitado inteiramente a sua “alma”. Oxalá me engane, mas no de Faro dispensava-se bem um supermercado. Aliás a 300 metros há ou havia um ou mais do que um. O interesse do mercado era a abundância de hortícolas, legumes frescos e peixe. Não que, para não destruir a tal “alma”, seja necessário deixar tudo na mesma. O Bolhão não tem necessariamente que ser o folclore das peixeiras e das beijocas eleitorais aos caudilhos… É tudo uma questão de grau, peso e medida, de uma combinatória equilibrada entre o antigo e o novo em que é o novo que deve prestar vassalagem ao antigo sem perder com isso caráter.
O que é importante é que o centro de gravidade continue a ser o mercado de alimentação, de frescos e sempre que possível com abastecimento de produtores de proximidade, com outras coisas que girem em torno da alimentação, como restaurantes, tasquinhas simples ou requintadas, livros de cozinha e alimentos como vi em Madrid perto da Plaza Mayor, etc. E não centros comerciais convencionais (como tenderia a ser o do Bolhão no projeto em boa hora enterrado), ou hotéis low cost (Bom Sucesso), ou incubadora de ateliês de design (Matosinhos).
Na nossa perspectiva rur-urb, o mais importante de tudo é fazerem parte de um complexo de apoio e revitalização à produção agrícola local ou próxima, na medida do possível de orientação ecológica (sustentável, tradicional, biológica ou outros qualificativos que lhe assentem).
JCM
(imagem retirada do site Não Lugares no Porto)
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