INFORMAÇÃO À IMPRENSA
A Campo Aberto – associação de defesa do ambiente manifesta publicamente a sua solidariedade com as populações afectadas pela construção da barragem do vale do Tua e o repúdio pelo recente parecer do Conselho Nacional de Cultura, que despreza e ignora o imenso valor patrimonial da simbiose entre a obra humana ferroviária e a grandiosa paisagem em que se inscreve.
A prevista destruição da linha ferroviária do Tua, que uma barragem ameaça submergir, despertou um intenso movimento de repúdio na própria região e um pouco por todo o país. O início de um processo para classificar a linha do Tua como património nacional foi um dos resultados desse movimento, que chegou a despertar alguma esperança. No entanto, o Ministério da Cultura viria a arquivar o processo de classificação, com base num parecer do Conselho Nacional de Cultura.
Que diz o parecer? Basicamente, nega qualquer valor relevante ao património em causa do ponto de vista arquitectónico, etnográfico, técnico, científico, industrial e cultural, negação essa ponto por ponto e sectorial, desgarrada, nunca considerando o conjunto integrado de todos esses elementos no contexto da sua inserção paisagística.
Este Conselho Nacional de Incultura mostrou bem não compreender, ou antes não querer compreender, o essencial. Não é a linha, não são as estações, não é nenhum dos elementos desgarrados com que o parecer se ocupa, que tornam aquele património único em Portugal e raríssimo no mundo. Património precioso e invulgar é sim o casamento da linha e da paisagem em que se inscreve, e isso foi, num acto de lesa cultura, inteiramente posto de lado no parecer em causa.
Como se depreende do que escreve Sant’Anna Dionísio no reputado Guia de Portugal, a linha e a «garganta encaixada entre caóticas penedias», os «alcantis formidáveis», são uma unidade indissociável. Foi à destruição dessa unidade que o Ministério da Cultura deu luz verde, consentindo que seja retirado do nosso usufruto aquela grandiosa paisagem. É esse enlace majestoso que vai desaparecer com a bênção da Incultura.
Portugal fica mais pobre. E mais inculto.
Porto, Janeiro de 2011
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