Março de 2012 * EcoSaúde 2
Sintomas recolhidos na imprensa que vou lendo (José Carlos Marques: jcdcm@sapo.pt), no quadro de temas traçados no inspirador livrinho Ecologia da Saúde, de Robin Stott. Estes recortes, aqui muito resumidos, e também comentados, poderão ser consultados na íntegra na associação Campo Aberto (ver horário de abertura).
EXCESSO DE MEDICAMENTOS NAS CRIANÇAS.
Atenção aos efeitos secundários. Segundo um estudo de profissionais dos hospitais Dona Estefânia, Lisboa, e Fernando Fonseca, Amadora, ainda inédito, as crianças portuguesas consomem medicamentos em excesso, alguns com efeitos secundários potencialmente graves, como o paracetamol e o ibuprofeno. A banalização do consumo pode trazer riscos acrescidos, segundo uma das responsáveis pelo estudo. Não será difícil imaginar que tal não se verificaria se os pais não tivessem uma atitude excessivamente ansiosa perante a doença infantil e se os clínicos muitas vezes a não fomentassem ou respaldassem, na esteira de uma imagem atual da medicina que talvez tenha que ser ajustada. Não se fala na notícia (mas talvez se fale no estudo) dos medicamentos contra a suposta hiperatividade infantil e aos antidepressivos na infância, que representam um perigo comprovado em alguns países «evoluídos». Ver: Jornal de Notícias, 21 fevereiro 2012.
AÇÚCAR EM EXCESSO PERIGO PÚBLICO?
Limitar o consumo de açúcar: imperativo de saúde pública. A ameaça sobre a saúde pública constituída pelo consumo excessivo de açúcar é de tal ordem que justifica a adoção de medidas comparáveis às já existentes para limitar o consumo de tabaco e de álcool. Essa é pelo menos a posição defendida num artigo publicado na revista Nature de 2 de fevereiro de 2012, subscrito por três cientistas da Universidade da Califórnia. Robert Lustig, Laura Schmidt e Claire Brindis, os autores, defendem o enquadramento estrito da venda de produtos açucarados e a sua tributação em conformidade com o perigo decorrente de doenças como a diabetes, a obesidade, as doenças cardiovasculares, o cancro e outras, a que ligam o consumo excessivo de açúcar. Apesar de alguns alertas da Organização Mundial de Saúde e da ONU, os autores consideram que o açúcar, «um dos principais culpados desta crise sanitária mundial, permanece sem vigilância.» A Dinamarca é talvez um dos raros países que se antecipou a esse alerta. Desde 1 de janeiro de 2012, o imposto sobre chocolates e doçarias aumentou em 33 por cento, e 50 por cento sobre as bebidas açucaradas do tipo refrigerantes. Aliás, a Dinamarca tinha sido já o primeiro país do mundo a lançar um imposto sobre as gorduras, igual a 2,15 euros sobre as gorduras saturadas. Seria curioso recordar que desde os anos 1960-70, certas correntes alimentares não convencionais, algumas delas naturistas e macrobióticas, faziam uma crítica severa do uso alimentar dos açúcares, tendo-se tornado muito conhecido um livro intitulado Sugar Blues… Ver: Le Monde, 3 fevereiro 2012.
O TABACO E AS CONSPIRAÇÕES CONTRA A SAÚDE.
Infiltrados até na Organização Mundial de Saúde! Sabe-se já que durante 50 anos ou mais a indústria do tabaco, por vezes com a cumplicidade de médicos subornados para escreverem artigos a ilibar o tabagismo como fonte de doença, fez tudo para negar o que era desde há muito óbvio. Mas começam agora a ser mais bem conhecidos os meandros dessa conspiração. Em julho de 2000, peritos da Organização Mundial de Saúde elaboraram um relatório explosivo de 260 páginas em que mostram como a indústria tabaqueira tinha infiltrado a própria OMS graças a associações fantasmas ou a cientistas pagos secretamente pela indústria, com vista a entravar as políticas de saúde que pudessem pôr o tabaco em causa. A revelação gradual dos perigos do tabaco para a saúde pública nas últimas décadas permitiu que políticas restritivas fossem sendo postas em prática em alguns países, sempre com grande resistência da indústria e com protestos de certos defensores da «liberdade». A prestigiosa ACLU americana (American Civil Liberties Union), por exemplo, fez campanha no início dos anos 1990 pela «liberdade» de fumar nos locais de trabalho. Algumas centenas de milhares de dólares que recebeu, provenientes da indústria do tabaco, não foram talvez alheias ao facto. O pior é que a indústria se voltou para o «terceiro mundo», onde procurou cientemente expandir a dependência ao tabaco. Este tipo de conspirações não existirão noutras indústrias? Vários casos têm sido evocados. A merecerem análise… Ver: Le Monde, suplemento Culture & Idées, pp. 4-5, 25 de fevereiro de 2012.
O açúcar é um dos problemas mais graves pois muitas pessoas nem se apercebem do perigo… pois não relacionam outros alimentos ricos em açucar como o ão, batatas e etc
no post anterior queria dizer “pão, batatas e etc”