15 Março de 2012 * Natureza 2
«As criaturas selvagens, como os seres humanos, precisam de um lugar para viver. À medida que a civilização cria cidades, constrói autoestradas e enxuga pântanos, ela apodera-se, pouco a pouco, da terra favorável à vida selvagem. E à medida que se estreita o espaço para viverem, as populações selvagens elas próprias declinam.»
Rachel Carson, celebrada autora de Primavera Silenciosa, livro que, em 2012,
completa 50 anos de sua primeira edição.
Redigido por José Carlos Marques: jcdcm@sapo.pt. Os recortes completos passarão a estar disponíveis para consulta na sede da associação Campo Aberto (www.campoaberto.pt), no horário que consta em: https://www.campoaberto.pt/2012/01/17/horario-de-abertura-da-campo-aberto/
BARRAGEM DO TUA
Declaração de Impacto Ambiental à vontade do dono. Num relatório citado pelo jornal Público, pode ler-se, relativamente à barragem do Tua: «Na Declaração de Impacto Ambiental … não há uma única frase que faça referência ao facto de a área afectada ser parte de um terreno classificado como Património Mundial e não há uma única palavra para expressar a sua preocupação em assuntos relacionados com o património. O Valor Universal Excepcional não é mencionado.» Ver: Comissão quer saber se a legislação europeia foi respeitada na avaliação da Barragem do Tua, Público, 2 março de 2012.
GEOLOGIA DE PORTUGAL
Inventário identifica 326 sítios com interesse científico fundamental. Num projeto coordenado pela Universidade do Minho, foi tido em conta o valor científico mas também a vulnerabilidade do património, já que alguns dos sítios correm risco de destruição, devido à ausência de políticas adequadas de gestão. Segundo o coordenador, José Brilha, o inventário revela a importância desse património ser gerido e preservado pelas autoridades nacionais que tratam da conservação da natureza. A investigação feita dará origem a um livro que pretende dar a conhecer ao grande público a riqueza geológica nacional. Ver: Público, 3 março de 2012.
PORTUGAL ESQUARTEJADO.
Em duas décadas, Portugal foi esquartejado por autoestradas. Em nome de um prometido progresso, que, como sabemos hoje, afinal pouco passou de utópico, escreve Ricardo Garcia, jornalista especializado em ambiente, comparando um trabalho que redigiu em 1989 com a realidade atual, depois de uma engraçada introdução com o seu habitual humor leve. «Hoje, ao olhar para o tal mapa de 1989, concluo que muitas das mazelas ali anotadas ainda se mantêm. O risco de incêndio, a erosão costeira, os buracos das pedreiras, a eterna ameaça de uma maré negra, algumas minas ainda abandonadas, o impacto da construção de barragens, as autoestradas, as suiniculturas, os rios poluídos, os entulhos, a urbanização exacerbada, as áreas protegidas pouco protegidas.» Ver: Público, revista Pública, 5 fevereiro 2012.
ESPÉCIES AMEAÇADAS NO MUNDO.
Tigre ou minhoca: qual é mais importante proteger? O programa SOS Save Our Species (Salvemos as nossas espécies), lançado pela União internacional para a conservação da natureza (UICN), inclui uns vinte projetos de conservação, desde a pantera ao rinoceronte, do gorila ao leopardo das neves. Aposta assim nas espécies emblemáticas, e sobre o capital de simpatia de que beneficiam na opinião pública. Essa estratégia é contestada nalguns meios conservacionistas. Em novembro de 2011, por exemplo, a revista Conservation Biology publicou uma invulgar sondagem junto de 583 especialistas da proteção animal e vegetal. Quase todos (99,56 por cento) concorda em considerar que a biodiversidade está a sofrer uma regressão sem precedentes, devido no essencial às atividades humanas. Já há menos acordo quanto às espécies a proteger prioritariamente, havendo quem defenda que algumas devem ser abandonadas à sua sorte, concentrando os esforços nos animais e plantas com melhores probabilidades de conseguirem sobreviver. Mais do que o panda ou o urso branco, seria necessário salvar certas minhocas e abelhas, e muitos outros invertebrados. Os conservacionistas mais clássicos respondem que salvando os grandes mamíferos, mais apreciados do público, se salvam grandes habitats, salvando assim também muitas espécies de menor prestígio. Ver: Le Monde, 5-6 fevereiro 2012.
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