UM PERÍODO MUITO ESPECIAL: 1974-1982
Não, não se pretende fazer a história do movimento ecológico ao longo de quatro décadas – a partir do Porto.
Mas sim evocar um período muito especial que se iniciou há quarenta anos, e grosso modo durou oito anos, embora tivesse deixado algumas marcas que perduraram, entre elas, até certo ponto, a própria Campo Aberto (apesar de só ter sido fundada em 2000!).
No restaurante do Parque Biológico de Gaia, recordando os alvores do movimento ecológico no Porto e em Portugal (1974-1982). Em 21 de junho de 2014, início de um verão chuvoso.
40 anos de ecologia a partir do Porto – 1974-1982
Quando, no 25 de abril de 1974, Portugal mudou de uma ditadura para uma democracia, poucos seriam os portugueses que teriam ouvido falar em ecologia e problemas ambientais. Menos ainda os que viam na ecologia um questionamento e uma crítica da sociedade contemporânea dita desenvolvida.
O desenvolvimento era aliás o sonho e a ambição do país, que os esperava ansiosamente como dádiva do novo regime. Tendo por modelo a imitar o que se passava nos países prósperos da Europa, ignorava-se que nesses países muitos punham em causa como precário e em vias de esgotamento precisamente o modelo que agora se pretendia seguir em Portugal.
No entanto, embora poucos, havia já alguns que entendiam desse modo a ecologia. A nível nacional, e sobretudo na região de Lisboa, agia já o Movimento Ecológico Português. No Porto, em 1974 e 1975, constituiu-se com essa perspetiva o Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto – GAIEP, ao mesmo tempo que na ESBAP (Escola Superior de Belas Artes do Porto, que então incluía também os cursos de arquitetura) o Professor Jacinto Rodrigues e um grupo de alunos seus, alguns dos quais membros do GAIEP, concebiam experiências alternativas semelhantes às que nos Estados Unidos, na Alemanha, Inglaterra, França e outros países prósperos então decorriam.
Irradiação a partir do Porto: GAIEP-ESBAP-Pirâmide
Note-se que o título dado ao ciclo evocativo deste período que vai decorrer em 2015 (40 anos de ecologia a partir do Porto – 1974-1982) não significa que se pretenda traçar a história desses 40 anos, mas comemorar o facto de terem passado quatro décadas desde o início de um período mais curto, 1974 a 1982, em que diversas iniciativas irradiaram a partir do Porto.
Com efeito, a partir do GAIEP disseminaram-se outras iniciativas, como o Festival pela Vida Contra o Nuclear que decorreu em janeiro de 1978 nas Caldas da Rainha e em Ferrel, organizado conjuntamente com o jornal Gazeta das Caldas e vários grupos antinucleares de Lisboa e região. Antes disso, ainda no Porto, tinha-se constituído a Cooperativa Pirâmide, que aliava a uma forte consciência ecológica um grande interesse pelas terapias alimentares e pelas filosofias e visões do mundo do antigo Oriente. Era igualmente grande o interesse pelo mundo rural e por uma visão não convencional da agricultura, que se manifestou nomeadamente na publicação de uma antologia de textos intitulada Manifesto por um Renascimento Rural.
No sábado 21 de junho 2014, reuniram-se no Parque Biológico de Gaia mais de 30 pessoas ligadas às várias iniciativas que se vão evocar em 2015 ao longo de um ciclo comemorativo. Aqui escutam uma exposição alusiva pelo Professor Jacinto Rodrigues. No canto à direita, vê-se o diretor do Parque Biológico de Gaia, o biólogo Nuno Gomes Oliveira, e o arquiteto e professor Franklin Pereira, este último membro da comissão organizadora da comemoração.
Renascimento Rural
Dessa antologia, integrada na coleção Viver é Preciso (Edições Afrontamento) que iniciou a sua publicação em 1974 e esteve igualmente na origem do GAIEP, e na qual se tinham publicado já vários textos sobre a perspetiva ecológica na agricultura, surgiu a tentativa de constituir um grupo com um ideário comunitário, que viria a transformar-se no projeto Renascimento Rural. Esse grupo tentou instalar-se numa aldeia do interior do concelho de Lagos (Algarve), juntando perspetivas de revitalização agrícola a alternativas energéticas e na construção de edifícios, ideais que eram então comuns internacionalmente nas correntes ecológicas alternativas. No fundo, esse complexo de interesses e investigações fazem com que a tentativa possa ser vista como precursora, talvez algo longínqua, dos atuais movimentos pela permacultura e pela transição que têm vindo a crescer em Portugal nos últimos anos.
Menos longínqua é talvez a filiação de uma associação como a Campo Aberto na tradição inaugurada nesse período que já parece remoto. Em apresentação disponível neste seu e-sítio, a Campo Aberto evoca como seus antecedentes reconhecíveis as iniciativas envolvidas no período agora em causa.
Passaram quatro décadas sobre esses movimentos pioneiros. Alguns «sobreviventes» decidiram realizar em 2015 uma evocação dessas iniciativas, promovendo um ciclo de debates e uma exposição visual com o título «40 anos de ecologia a partir do Porto | 1974-1982».
Enquadrado nesse âmbito, decorre no sábado 17 de janeiro um primeiro debate em torno do testemunho do biólogo, inspirador, criador e diretor do Parque Biológico de Gaia, Nuno Gomes Oliveira, intitulado «40 anos em defesa da natureza no Noroeste e Norte de Portugal», ele também membro do GAIEP nos alvores da sua já longa ação em prol da natureza, embora nessa tertúlia o âmbito seja muito mais vasto que a fugaz existência do GAIEP. O seu testemunho aborda a sua participação individual ao longo de quatro décadas nessa luta (e não apenas o período 1974-1982).
De certo modo relacionada com esse debate, está também a visita ao Parque Biológico de Gaia em 31 de janeiro de 2015.
Outros testemunhos e debates estão a ser preparados para junho e outubro. Por outro lado, estará patente de setembro a novembro uma exposição visual sobre o mesmo tema. Será na Fundação Escultor José Rodrigues, do Porto, que, em parceria com a Campo Aberto, assume a iniciativa, concretizada por uma comissão organizadora constituída por pessoas que estiveram envolvidas no período 1974-1982 nas iniciativas já mencionadas. Da comissão fazem parte Jacinto Rodrigues, Rosa Oliveira, José Carlos Marques, Franklin Pereira e Ana Caldas.
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