PETIÇÃO PARA PRESERVAR A ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DA BOAVISTA
Colocado em 7 de fevereiro de 202o
Segundo o jornal de notícias, a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) indicou no dia 5 de fevereiro que o pedido de classificação da antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, onde o Corte Inglés quer construir, encontra-se em «apreciação técnica» na Direção Regional de Cultura do Norte. Mais adiante, a notícia completa.
Uma petição em apoio da classificação pode ainda ser assinada. O texto completo da petição figura a seguir.
Para assinar, comece por se registar na plataforma.
Preencha a seguir o formulário. Para assinar a petição, clique em «assinar» e insira as credenciais (email e palavra chave) que indicou no formulário.
VÃO DEMOLIR UM EDIFÍCIO QUE REMONTA A 1875?
Carta aberta ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, à IP – Infraestruturas de Portugal, à Câmara Municipal do Porto, à Direção-Geral do Património Cultural e à Metro do Porto
Tendo em conta as notícias divulgadas recentemente em diversos meios de comunicação social, que dão conta de um projeto imobiliário do El Corte Inglés para os terrenos da antiga estação ferroviária do Porto-Boavista, sita na praça de Mouzinho de Albuquerque (rotunda da Boavista), que prevê a construção de um centro comercial e de uma unidade hoteleira (ver nota de rodapé), os abaixo-assinados vêm por este meio expor o seguinte:
A estação ferroviária do Porto-Boavista foi a primitiva estação central da Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa de Varzim e Famalicão. Inaugurada em 1875, poucos meses depois da abertura da estação de Campanhã, serviu durante mais de cem anos o movimento ferroviário de passageiros e mercadorias do Porto, contribuindo para a expansão da malha urbana em direção à Boavista, sendo por isso um elemento emblemático da história e património recente da cidade.
O caminho de ferro do Porto à Póvoa e Famalicão foi o primeiro a ser construído em Portugal usando a tecnologia da bitola estreita, que seria fundamental para estender a rede aos pontos mais remotos do País. A estação em si é um excelente exemplo da arquitetura ferroviária de finais doséculo XIX em Portugal, encontrando-se, por ora, em estado de conservação regular. Os terrenos, para onde se prevê o projeto imobiliário, contêm ainda alguns resquícios da atividade ferroviária, como a gare de passageiros e uma rotunda de locomotivas (como se pode ver aqui:
https://www.google.com/maps/@41.1600167,-8.6304904,295m/data=!3m1!1e3).
COMÉRCIO A MAIS, HOTÉIS A MAIS
A estação está abandonada desde início do presente século, quando a linha do Porto à Póvoa de Varzim foi encerrada para ser reconvertida parcialmente para uso do metro do Porto (o troço entre a Póvoa de Varzim e Famalicão foi encerrado em meados da década de 1990). O projeto imobiliário previsto para aqueles terrenos ameaça a preservação daquele elemento do património ferroviário nacional, que malgrado algumas iniciativas meritórias, tem sido, década após década, muito maltratado.
Adicionalmente, o projeto imobiliário em causa prevê a construção de infraestruturas desnecessárias para o contexto urbano local, designadamente um centro comercial e um hotel, quando, num raio de apenas 1 km desde a rotunda da Boavista, existem pelo menos cinco centros comerciais ativos (Cidade do Porto, Península, Brasília, Parque Itália, Sírius), um abandonado (Dallas) e diversas unidades hoteleiras (Hotéis da Música, Tuela, Meridien, Crowne Plaza,
Sheraton, Douro, HF Fénix, ABC e Quality Inn Portus Cale).
Em suma, considerando que:
a) a estação ferroviária da Boavista é um valiosíssimo elemento do património ferroviário nacional e da história recente da cidade do Porto;
b) o projeto imobiliário do El Corte Inglés nada trará de novo e positivo à cidade, adicionando apenas novas infraestruturas comerciais e hoteleiras semelhantes a muitas outras que já ali existem;
c) serão inegáveis os impactos negativos na mobilidade e qualidade de vida daquela zona causados por uma elevada sobrecarga urbanística graças aos mais de mil novos lugares de estacionamento previstos;
d) o Porto e a zona da Boavista carecem de mais espaços lúdicos de uso público e não de mais superfícies comerciais e unidades hoteleiras;
e) no atual contexto de combate às alterações climáticas, importa que as entidades públicas promovam ativamente a redução de comportamentos consumistas, a ampliação de espaços verdes e a diminuição do número de veículos automóveis no centro das cidades; os abaixo-assinados vêm por este meio apelar ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, à IP – Infraestruturas de Portugal e à Câmara Municipal do Porto que, em cooperação com a Direção-
Geral do Património Cultural e a Metro do Porto, envidem todos os esforços para:
PRETENDE-SE
1) impedir a concretização do projeto imobiliário do El Corte Inglés previsto para os terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista;
2) fazer reverter o domínio e usufruto dos terrenos para a esfera pública;
3) implementar naquele local uma solução urbanística que inclua a preservação dos elementos ferroviários ali presentes, com entrada pela antiga estação da Boavista, que assim manteria a sua função original de acolhimento e ponto de passagem de cidadãos, outrora passageiros do caminho de ferro, presentemente usufrutuários de um espaço público.
Nota de rodapé
https://www.publico.pt/2019/11/18/local/noticia/el-corte-ingles-vai-pagar-29-milhoes-terreno-boavista-onde-quer-
erguer-tres-predios-1894204.
https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/projeto-do-el-corte-ingles-para-a-boavista-ja-deu-entrada-na-camara-
do-porto-11459133.html.
https://www.dinheirovivo.pt/empresas/corte-ingles-ja-tem-projeto-para-a-boavista-na-camara-do-porto/.
PATRIMÓNIO ÚNICO
Segundo o jornal de notícias, a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) indicou no dia 5 de fevereiro que o pedido de classificação da antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, onde o Corte Inglés quer construir, encontra-se em «apreciação técnica» na Direção Regional de Cultura do Norte. Mais adiante, a notícia completa.
De acordo com a DGPC, o pedido, enviado no dia 9 de janeiro por um grupo de cerca de 60 cidadãos que defendem a preservação daquele património, foi recebido «e posteriormente encaminhado para a Direção Regional de Cultura do Norte [DRCN], onde se encontra em apreciação técnica».
O pedido foi feito por um grupo de cerca de 60 personalidades ligadas à academia e ao património ferroviário, que numa carta aberta alertavam, em janeiro, para a importância da preservação da antiga estação ferroviária da Boavista, em risco se o projeto do El Corte Inglès para aquele local avançar.
No pedido, que seguiu por email e carta, os subscritores pedem a sua classificação como Imóvel de Interesse Público (MIP), mas admitem outras classificações, desde que permitam a preservação daquele local.
«Esperamos que o pedido que entregámos seja aceite e que a estação seja classificada como património de interesse nacional. Seria melhor ser de interesse nacional, no entanto, se a DGPC não entender assim, e preferir que seja a câmara a tomar esse processo, também não recusamos essa possibilidade», afirmava, à data, o primeiro subscritor.
Em declarações à Lusa, Hugo Silveira Pereira, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, disse acreditar estarem reunidas todas as condições para que a antiga estação ferroviária da Boavista possa ser classificada.
De acordo com o investigador, do que é conhecimento público, através das imagens de satélite fornecidas pela aplicação Google Maps, a parte exterior da estação “parece estar bem conservada” e há ainda resquícios de uma rotunda de locomotivas, das linhas e da gare de passageiros.
Preservar o passado é fundamental para não perdermos a nossas identidades.