Ação «Quero Ser Uma Árvore» transforma caldeiras vazias em manifesto ecológico no Porto, enquanto o Município parece ter adiado planos de arborização
A Campo Aberto e o Grupo GARRA Porto, em ação realizada na sexta-feira 9 de fevereiro, ocuparam 40 caldeiras vazias no Porto com tabuletas dizendo «Quero Ser Uma Árvore». As caldeiras são os espaços nas ruas que já tiveram ou se destinam a ter árvores. Inspirada numa ação realizada em Coimbra pelo grupo «Eu também – Coimbra» e reaproveitando as tabuletas lá usadas, a iniciativa chama a atenção para a possibilidade de plantação imediata de árvores nestes locais, sem nenhuma obra necessária.
Da Foz a Campanhã, da Baixa à Asprela, os ativistas espalharam pela cidade uma mensagem construtiva, no sentido da melhoria da qualidade do ar, promoção da biodiversidade e do bem-estar da comunidade. Todas as tabuletas têm um QR code que remete para este mesmo comunicado.
Em que ponto está o Plano de Arborização da cidade?
Entretanto, supomos, pelo que pudemos indagar, que a Câmara Municipal do Porto, parece não ter no orçamento para 2024 nenhuma verba alocada à concretização do seu ambicioso Plano de Arborização da cidade. Esse plano, apresentado há dez meses, identifica 200 quilómetros de ruas «passíveis de serem arborizadas», além dos 156 quilómetros de ruas arborizadas atualmente existentes (e de 177 km não arborizáveis). Ou seja, é possível mais que duplicar as ruas com árvores na cidade. Mas o Plano parece continuar a existir apenas na gaveta.
Além da plantação imediata de árvores nestas e em todas as outras caldeiras vazias que se possam localizar, a Campo Aberto e o GARRA Porto instam a Câmara Municipal do Porto a revelar o seu cronograma para a concretização do seu plano de arborização do Porto. Planos ambiciosos e cientificamente validados têm de facto interesse mas apenas se houver recursos financeiros para que se tornem realidade.
São urgentes ações concretas para preservar e promover a natureza na cidade; comecemos por estas 40 caldeiras, e avancemos rapidamente para mais ruas.
Urgente proteger o coberto vegetal da cidade
Note-se que, segundo um estudo de cientistas portugueses publicado recentemente na versão digital da revista Landscape and Urban Planning, e a que foi dado realce publicamente, as áreas de vegetação do Porto (árvores, arbustos e vegetação herbácea) diminuíram drasticamente desde 1947, pondo em perigo a biodiversidade e a qualidade da vida urbana. Porém, desde há décadas que associações ambientais têm advertido para a necessidade de inverter esse processo, sem terem sido ouvidas pelo poder autárquico. A ação «Quero Ser Uma Árvore» vem também lembrar que é urgente inverter o processo de destruição do coberto vegetal no Porto.
Sobre os promotores da iniciativa
A Campo Aberto é uma associação empenhada na promoção de práticas sustentáveis e na sensibilização para questões ambientais, inclusive e de modo especial na cidade do Porto. O GARRA Porto promove o aproveitamento de recursos da cidade nas áreas dos transportes, património, espaços verdes e desportivos.
Nota sobre os locais onde existem caldeiras vazias
As tabuletas serão recolhidas pelos promotores da ação nos próximos dias, para permitir o seu uso noutras cidades.
Eis a lista das caldeiras identificadas; foram colocadas tabuletas em cerca de metade delas.
Foz:
Rua de Diu, junto ao nº 63 – 2 caldeiras vazias
Rua D. Pedro V – 3 árvores em falta em alinhamento do lado Nascente
Rua do Ouro, a montante e a jusante da Ponte da Arrábida – 5 caldeiras vazias
Boavista:
Rua 5 de Outubro – 1 caldeira vazia
Rua do Bom Sucesso, junto ao 62 – 1 caldeira vazia
Carvalhido:
Avenida do Conselho da Europa, sentido Norte-Sul – 4 caldeiras vazias
Rua dos Castelos, em frente ao número 138 – 1 caldeira vazia
Av. Cidade de Xangai, próximo à escola Maria Lamas e à quinta da Prelada – 2 caldeiras vazias
Rua Mário Vasconcelos e Sá, nas traseiras do número 70 – 4 caldeiras vazia
Cedofeita:
Rua Barão de Forrester – 5 caldeiras vazias
Rua de Cedofeita com Rua de Álvares Cabral – 1 caldeira vazia
Praça da República, lado Sul – 2 caldeiras vazias, lado Norte, 2 caldeiras vazias
Rua Eng. Carlos Amarante, junto ao 184 – quatro canteiros vazios
Rua dos Miosótis, em frente à escola – 1 caldeira vazia;
Rua Eng. Machado Vaz, junto ao 214 – alinhamento com 1 árvore em falta
Antas:
Praça Francisco Sá Carneiro, lado Sul: 2 caldeiras vazias
Rua João Ramalho, em frente ao Millenium: 1 caldeira vazia
Asprela:
Rua de Santa Maria, junto ao nº 80 – 2 caldeiras vazias
Rua de Alfredo Allen, junto ao edifício do i3s – 6 caldeiras vazias
Areosa
Rua de Santiago, junto ao nº 60 – 1 caldeira vazia
Rua Dr Eduardo Santos Silva, frente ao supermercado continente – 4 caldeiras vazias.
Rua da Igreja da Areosa – 2 caldeiras vazias
Baixa
Rua Dr Alberto Aires Gouveia (frente às urgências do Sto António), n°5 e 21: 2 caldeiras
Rua Dr Ferreira da Silva (entre Praça de Lisboa e Edifício histórico da UPorto): 1 caldeira junto às paragens do autocarro
Belas Artes
Rua Ferreira Cardoso, junto ao nº 198 – 2 caldeiras vazias
Rua Duque de Saldanha, junto ao nº 725 (triângulo) – 2 caldeiras vazias
Av Rodrigues Freitas, junto ao nº 52 – 1 caldeira vazia
Rua Morgado Mateus, junto ao nº 224 – 1 caldeira vazia
Rua Barão são cosme, junto ao nº 269 – 1 caldeira vazia
Rua Duque da terceira, junto ao nº 44 – 1 caldeira vazia
Av Fernão Magalhães, junto ao 1073 – 1 caldeira vazia, nº 45- 2 caldeiras, n°16: 1 caldeira
Campanhã
Rua do Freixo, junto à entrada do Parque Oriental – 3 caldeiras vazias
Excelente iniciativa, é impressionante a quantidade de cotos que estão a ficar por todo o lado, um dos últimos foi frente ao Prado do Repouso. Num instante desapareceu dali uma grande árvore, já há uns anos foram duas ao lado do Madureira’s, precisamente em Soares dos Reis.
Acredito que não seja fácil / possível fazer crescer uma árvore onde estava outra, com as grandes raízes já debaixo do pavimento e passeios. Mas devia ser colocada outra, próximo de onde estava a que foi cortada.
A comunicação social faz grande alarde quando caem árvores em tempestades, e depois as comunidades ficam todas assustadas e pensam que toda e qualquer árvore lhe vai cair em cima… Isto precisa de muita informação e sensibilização.
Daniel Nogueira
Boa tarde
Desde já obrigado pela vossa iniciativa, acho bastante interessante a placa por vocês deixada no jardim está a suscitar muita curiosidade por quem lá passa.
Já agora vou vos dar uma ideia minha, quem sabe se um dia venha a ser realidade, porque não, por cada criança que nasça na nossa cidade, plantar uma árvore autóctone?
Que a esperança seja a última a morrer.
Mais uma vez obrigado.
Muitos cumprimentos,
Marcos Vale
Obrigado ao Marcos Vale pela ideia, já aplaudida por outra leitora. As árvores seriam plantadas pelas autoridades municipais, decerto, já que só elas têm poderes para o fazer. Mas é bom lembrar-lhes.
Bom dia e parabéns pela iniciativa! Precisamos de respirar e contemplar o bem e o belo. Olhem os pássaros! Acho uma belíssima ideia a proposta de Marcos Vale de dar o nome de cada criança aqui nascida às novas árvores. Ideia com futuro porque é educativa. Obrigada!
Parabéns pela iniciativa!
É bom saber que não estamos sozinhos nesta luta.
Tenho insistido várias vezes junto da Câmara com pedidos de plantação e manutenção das árvores e canteiros. Um dos locais onde colocaram as placas, Av Fernão Magalhães, que sofreu uma empreitada recentemente, não tem qualquer plano de manutenção das árvores e canteiros. Além disso, quando fazem alguma intervenção, claramente não têm equipas com a formação necessária. Foram danificadas e feitas podas desadequadas em várias árvores jovens.
We need more trees