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Introdução a esta rubrica sobre bicicleta e mobilidade
QUE PORTO QUEREMOS, foi o mote de uma tertúlia organizada pela Campo Aberto há tempos. Com vários oradores convidados a apresentarem a sua visão do que deveria ser a cidade, um deles, Miguel Barbot, não podendo estar fisicamente presente, enviou um contributo escrito, que foi lido por Vítor Silva, o organizador da tertúlia. «Antes de mais agradeço à Campo Aberto o convite para participar neste encontro e envio um abraço ao meu amigo e companheiro Vitor Silva. Não poderia escolher melhor porta-voz para as minhas palavras» – começava assim o escrito. O contributo pode agora ser lido aqui, mais abaixo.
Miguel Barbot é autor do blogue Um Pé no Porto e um dos criadores da Velocultura, loja situada em Matosinhos.
Nesta rubrica do e-sítio da Campo Aberto dedicada à «pequena rainha» como lhe chamam em França, a bicicleta é o tema central. Iniciamos a rubrica com o contributo de Miguel Barbot.
À DISTÂNCIA DE UMA PEQUENA PEDALADA – A MINHA CIDADE
por Miguel Barbot
«Que Porto quero?
Fundamentalmente, quero um Porto urbano. Um Porto que seja cidade e que negue a suburbanidade que minou o seu desenvolvimento nas últimas décadas.
Quero um Porto policêntrico, plural, onde as pessoas possam viver, trabalhar e divertir-se à distância de uma caminhada ou de uma pequena pedalada.
Quero um Porto onde o automóvel ocupe o lugar que merece no mix de mobilidade, sendo a terceira opção, um recurso, e não a primeira.
Um Porto onde os transportes coletivos funcionem e onde as pessoas poderão andar nos passeios e as bicicletas na estrada.
Um Porto onde as pessoas podem atravessar a rua sem medo de serem atropeladas. Um Porto onde os automobilistas não andam inconscientemente com uma arma apontada à cabeça das pessoas.
Um Porto onde as cargas e descargas são feitas nos sítios das cargas e descargas, às horas em que as cargas e descargas devem ser feitas.
Um Porto que não é aquela coisa tristonha que as pessoas veem através da janela do carro e à qual fazem um bypass no seu caminho entre a garagem do escritório e a garagem do centro comercial.
Um Porto onde as pessoas andam a pé e comprem coisas a outras pessoas do Porto e não a «eles». Um Porto em que o merceeiro vende fiado, o marceneiro faz uma cadeira e o serralheiro resolve um problema.
Um Porto afirmado como terra de pessoas que trabalham, com outras pessoas e para as pessoas. Uma cidade de pequenas empresas, pequenos comércios e oficinas, de negócios de proximidade viáveis e com valor acrescentado.
O Porto que quero é um Porto onde as pessoas falam umas com as outras, onde se encontram na rua, naturalmente.»
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