DEBATE COM FILIPA SANTOS SOBRE SARGAÇO, CULTURA E AGRICULTURA
Colocado em 18 de abril de 2023
Numa iniciativa «Círculo Agricultura» da Campo Aberto, convidámos Filipa Santos, autora de uma dissertação de mestrado sobre este assunto a apresentar-nos o seu trabalho e a debatê-lo com ela.
Filipa Santos é licenciada em Turismo, Território e Patrimónios pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestre em Património Cultural pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho com a tese «Entre a Terra e o Mar: uma etnografia visual da cultura do sargaço na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos». Co-autora do artigo O Colonialismo filtrado pelo olhar: visibilidade e invisibilidade na fotografia de Agostiniano de Oliveira (2021), publicado no n.º 4 da Revista 2i: Estudos de Identidade e Intermedialidade. Participação, enquanto palestrante e membro da comissão organizadora, em conferências e seminários no âmbito do Património Cultural e da História Contemporânea.
Sargaço e agricultura
Apresentamos um resumo da dissertação em causa.
A apanha do sargaço constitui uma atividade imemorial, complementar à atividade agrícola, que pressupõe a recolha e secagem das macroalgas para fertilização das colheitas. Antes da aplicação generalizada dos adubos químicos, as populações rurais dedicavam-se também a esta faina agromarítima, considerada uma das formas mais eficazes de fertilização da terra. O incremento da procura deste recurso natural para fins agrícolas deu origem a um fluxo populacional crescente em seu torno e a uma aproximação gradual das gentes para junto da linha da costa.
Enquanto elemento de ligação entre o espaço terrestre e marítimo, a recolha de sargaço contribuiu significativamente para a formação e fixação de aglomerados costeiros no litoral Norte português ao longo dos séculos, visto que apesar das suas motivações agrícolas, a atividade acabou por se desenvolver, económica e socialmente, em estreita relação com a atividade piscatória.
Neste sentido, a presente investigação tem como objeto central de estudo as dinâmicas culturais em torno da atividade sargaceira na comunidade piscatória de Angeiras, pertencente à freguesia de Lavra, no município de Matosinhos. A instabilidade financeira e a falta de condições de vida e trabalho na região contribuíram para a formação gradual de aglomerados costeiros, cuja consolidação dependeu, significativamente, da exploração dos recursos haliêuticos.
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[Nesta investigação] … na tentativa de contrariar o atual cenário de desperdício e inutilização do sargaço que abrange a costa portuguesa, exploram-se soluções alternativas e inovadoras para o seu destino, atendendo ao potencial de aplicação das macroalgas numa série de produtos e indústrias.
Com base em:
‘Entre a Terra e o Mar’: uma etnografia visual da cultura do sargaço na comunidade piscatória de Angeiras, Matosinhos
Texto e fotos de Filipa Santos
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