Por Mário Pessegueiro –Arquitecto
«O parecer do IPPPAR sobre a intervenção na Av dos Aliados revela duas coisas muito claras:
1º – Este organismo até não concorda muito ou mesmo nada com o projecto de remodelação da Avenida, pois indica argumentos suficientes para um chumbo claro e inequívoco.
Mas como se trata de algo da autoria Siza e Souto Moura o IPPAR não teve a coragem suficiente para o indeferir. Isto faz lembrar há uns anos atrás o medo que a Câmara de Lisboa tinha em chumbar os projectos de Tomás Taveira. Os arquitectos da Câmara nem se atreviam a indeferir as imensas pretensões do viril arquitecto.
2º O “parecer” do IPPAR reforça ainda a ideia de que o projecto para aquele local é francamente mau. Na verdade parece ser claro que o que é retirado daquela praça, não tem contrapartidas enriquecedoras do espaço urbano . Resume-se a um laguinho na zona superior da Avenida e ao alargamento dos passeios por imposição da localização dos acessos ao metro.
Não se vê nesta intervenção argumentos arquitectónicos para que esta ampla praça se torne um local de “reunião” da população ou um pólo que convide à fixação dos utentes. Vai parecer mais um mero lugar de passagem, inócuo e pouco condizente com as felizes intervenções europeias em praças equivalentes.
Por fim, fala-se ainda muito na inversão da estátua de D. Pedro como se fosse um acto sublime de arquitectura.
Pois bem, com este parecer o IPPAR revela que não é isento nem um orgão independente, estando sujeito às mais mesquinhas pressões culturais ou políticas, quer vindas da C. Municipal (caso da Av dos Aliados), quer vindas do Governo central (caso da Rua de Ceuta).»
Mário Pessegueiro -Arq.
(ver também Opinião # 11: AV. dos ALIADOS- MEMÓRIA DE UM LUGAR )
Outros comentários sobre o parecer do IPPAR
As “mesquinhas pressões” culturais e outras reflectem-se também pela falta de uma maior contestação à intervenção nos Aliados.
Não temos dúvidas que é por causa do prestígio dos autores e o receio de sofrerem “represálias”(a diversidade e complexidade destas eventuais represálias é espantosa).
Apenas assim se entende o silêncio, por exemplo, dos candidatos (q interessa em privado dizerem q apoiam e q fazem e acontecem- como já aconteceu- se em público nada assumem e as promessas de intervenção não se concretizam?); de historiadores e jornalistas, de escritores, e de muitas outras personalidades.
Até agora temos estado à espera de algumas declarações por parte por exemplo de Germano Silva, de Helder Pacheco, de Agustina Bessa Luís, pessoas a quem enviei pessoalmente o manifesto, e fotografias. Há mais de dois meses, até agora nada. Não queria que me respondessem a mim (quem sou eu…) mas a cidade merecia-o. Merecia uma tomada de posição clara, merecia que essas e outras personalidades declarassem e explicassem o seu ponto de vista. Mas não. Outro “opinion maker” que me desiludiu profundamente: o J Pacheco Pereira (é portuense não é?). Nada. Não tem opinião apesar de o ter aborrecido repetidamente com apelos. Micro-causa por micro-causa…
Os nossos jornais também, as televisões, as rádios, nada ou pouco tem feito para esclarecerem as pessoas. Mas não é essa também a função deles? Porque não promoveram debates,ouviram opiniões, escreveram algo mais do que meras notícias?
É neste panorama de cidadania deficitária que me vejo obrigada a admirar a frontalidade de várias pessoas que prontamente aderiram ao apelo para assinarem o manifesto. E de todas as sensibilidades políticas como se costuma dizer, nomeadamente da coligação que concorre à CMP.
Podia enumerar umas boas dezenas mas podem consultar a lista dos primeiros 2 500 subscritores : desde a políticos a arquitectos, de jornalistas a escritores, músicos,etc. estão lá muitas pessoas conhecidas.
Mas era preciso mais. Muito mais. Esta ilusão de que há muita gente a ler blogues eu não a tenho e era preciso mais gente a declarar publicamente aquilo que acha sobre todo este processo.
É o que temos, que se há-de fazer?
Como concordo consigo Manuela. A dupla Siza e Robin são imbatíveis – um caso claro do «rei que vai nu».
Ao menos do parecer do IPPAR – que obviamente não acha o projecto grande coisa – tira-se uma pequena conclusão: o quadrúpede com o seu real cavaleiro fica quieto. Era bom que outros, bípedes neste caso, lhe seguissem o exemplo.
Abraço de Luanda,
Alexandre Borges Gomes.