Pesquisando mais uma vez nos jornais o (pouco) que se tem escrito sobre a Avenida e a Praça e o que lá tem vindo a ser “burilado” encontrei esta passagem de uma entrevista a Beatriz Pacheco Pereira (que sobre o assunto já aliás tinha expresso veementemente a sua opinião num artigo aqui aqui transcrito).
«Para além de fazer o retrato do país, escreve (nestas 67 crónicas) sobre a cidade do Porto, sobre “os que a amam e os que a detestam, fingindo amá-la”. De que lado é que está?
Eu estou do lado dos que a amam e detesto os que a detestam. [risos]
Na crónica a que deu o título «O Bairrismo dos Provincianos», fala, a determinada altura, do “estilo português de ser do contra”. As suas crónicas, sendo raramente a favor, também se inserem neste estilo?
Sim, eu acho que a unanimidade é uma coisa muito inerte. Não tem vida. O ser do contra é muito fácil, no meu caso, porque eu tenho visto tanta asneira, nos últimos anos, em relação à cidade do Porto! A começar por uma coisa recentíssima: anuncia-se a requalificação da Avenida dos Aliados e não há um coro de pessoas que diga que isto é uma vergonha, que lá por ser do Siza Vieira ou do Souto Moura não pode avançar.
Não se pode modernizar o solo e dizer que depois a cidade fica mais bonita. E vão acabar com valores que são nossos: a calçada portuguesa, os jardins. Nós temos jardineiros que fazem aqueles desenhos muito intrincados nos canteiros. Ia-se a pé à Baixa, passava-se pelos canteiros, e via-se desenhos lindíssimos. O que é que nós vamos fazer àqueles artistas que concebiam aqueles canteiros? Vamos pô-los a jardinar no Parque da Cidade, onde pouca gente aprecia…
Mas as nossas artes vulgares, até mais populares e mais humildes, são valores da nossa cultura que o Porto não pode perder. Sou visceralmente contra o arranjo que está proposto para a Avenida dos Aliados, como sou visceralmente contra o que fizeram ao jardim da Cordoaria ou à Praça dos Leões.»
in Entrevista a Beatriz Pacheco Pereira a propósito de lançamento do seu novo livro de crónicas: Do Porto e do Olhar [Fólio edições] in O Primeiro de Janeiro (31 de Julho 2005)
Ha, Beatriz, Manuela, música para os meus ouvidos… Mas será assim tão difícil de ver?
Bem hajam,
Alexandre BG.